¤ Relato do nascimento de Cecília, filha de Raquel e Seite

A gravidez

Assim como fiz com a Elisa, vou deixar registrado aqui um breve relato da gestação da Cecília.

Eu sempre quis que meus filhos tivessem uma diferença de idade pequena, como 2 anos. Em setembro de 2006 começamos a tentar engravidar e mês a mês, nada! Cheguei a fazer alguns exames para ver se tinha algo errado, mas nada foi encontrado. Em janeiro de 2007 comecei acupuntura e tb voltei a yoga. Depois de um tempo entendi que eu não poderia engravidar naquele primeiro momento já que o ano de 2006 havia sido extremamente estressante para mim com relação ao trabalho e eu estava completamente esgotada fisicamente. A acupuntura e yoga conseguiram restabelecer o equilíbrio do meu organismo e em março então me descobri grávida. Ficamos felicíssimos e tentei enviar o resultado do exame para o hotel do meu marido que, estava viajando a trabalho nos States, mas a minha surpresa não deu certo porque o hotel era confuso e não entregaram nada.

Como já era esperado, passei muito mal. Fiquei pior que na gestação da Elisa, vomitando mais vezes e sentindo enjôos horrorosos ao longo do dia.

Tínhamos férias marcadas para o começo de abril para Portugal e Espanha. E lá fomos nós. Maravilhoso, aproveitamos muito mas ainda eu estava enjoando. Ainda sinto pena das bacalhoadas que não comi, dos pastéis de Belém que deixei de lado, do queijo Serra da Estrela que nem quis saber que existia. Sem contar nos vinhos ... quanto desperdício!

Passados os 3 meses, lá pela 15ª. Semana eu estava bem novamente.

Voltei a minha yoga, musculação ...

Aí já estava disposta a pensar sobre o parto. Sempre pensei em parto domiciliar, achava uma idéia romântica ... eu tinha tanto medo em cair novamente numa cesárea que pensava que o PD seria minha solução. Coragem? Acho que ainda não tinha. Hoje percebo que não é exatamente coragem que precisamos ter mas sim confiar em nós mesmas.

Um dia, na lista materna_sp, fui atualizar minha DPP e coloquei que o parto seria domiciliar e a Ana Cris respondeu logo em seguida dizendo para procurar pela Márcia Koiffman. Um dia comentei com o meu marido, Seiti, sobre parto domiciliar e ele, na sua imensa tranquilidade me disse: se pra vc tudo bem, pra mim tb! Pronto! A idéia estava ganhando corpo.

Não sei explicar porque mas eu queria que a Lucía fosse minha doula. A Leyla, que foi quase minha doula na outra gestação, deve estar triste comigo mas acho que eu precisava fazer tudo diferente do que foi com a Elisa e mudar inclusive as pessoas que participariam do parto.

Entrei em contato com a Lucía e, para minha surpresa, ela iria fazer uma reunião na casa dela justamente com a Márcia, Priscila e Ana Paula. Lá fomos nós e conversei somente com a Priscila (a Márcia não tinha ido) e ali já estava fundamentada minha decisão: seria em casa.

Como ainda estava no comecinho da gestação, preferi não expor o meu desejo pra ninguém – a não ser uma amiga tb grávida e outras maluquinhas como eu– e evitar ficar comentando e criando expectativas para mim mesma. O meu maior medo era que eu tivesse uma nova cesárea. Morria de medo que o bb se posicionasse de forma incorreta na barriga, que eu tivesse placenta prévia, pressão alta ...

O pré-natal foi com a Gabriela, amiga da Ana Paula que, assim que comentamos sobre parto eu disse a ela que seria domiciliar. Ela, muito tranquila como sempre, não torceu o nariz e assim foi até o final da gestação, em nenhum momento fez terrorismo ou algo do tipo.

E lá se foram os meses, descobrimos para nossa surpresa que era uma menina (todo mundo dizia que seria menino) e nessa resolvemos um problema, o nome do bb. Se fosse menino não saberíamos qual seria. Agora, Cecília sempre foi Cecília assim como Elisa sempre foi Elisa.

Ganhei mais peso que ganhei com a Elisa, mas em números absolutos ainda fiquei ‘mais leve’.

Nos encontramos algumas vezes com Márcia, algumas vezes com Lucía e tudo corria bem, a Cecília estava cefálica e nada de errado.

Eu tinha a impressão que o parto iria ser antes da DPP. Pura impressão.

Um grande desconforto que tive durante a gestação foi o ciático que, apesar da yoga, só foi resolver quando voltei a fazer sessões semanais de acupuntura e a fazer home-office.

Saí de licença em 22/11 e dei férias para a babá da Elisa e foi muito bom esse período que fiquei em casa até o nascimento da Cecília.

O nascimento


Embora eu acreditasse que a Cecília chegaria antes do tempo previsto, a danadinha me enganou. Durante algumas noites que antecederam o parto eu senti algumas contrações que chegaram a incomodar mas não o suficiente para que eu saísse da cama. Por coincidência, as mais fortes foram justamente de uma quinta para sexta-feira de 2 semanas seguidas. O Seiti começou a acreditar que a Cecília nasceria somente na próxima quinta-feira.

Porém, de sábado para domingo (do dia 02/12) eu senti novamente contrações que começaram por volta das 5h30. Achando que poderia ser apenas os pródomos, continuei dormindo. Acordamos, tomamos café e as contrações ainda fracas e espassadas continuaram. Resolvemos marcar o tempo e estava com 5 minutos de regularidade. Como estava tudo bem, o Seiti e Elisa foram passear no parquinho da lagoa da Unicamp enquanto eu, resolvi que a casa precisava estar limpa pra receber a Cecília. Varri tudo, parava quando vinha uma contração para anotar a hora. Lá pelas 10h30, as contrações estavam de 3 em 3 minutos e achei melhor ligar para a Márcia. Coincidência ou não, algumas contrações espassaram nessa hora e algumas perderam a regularidade. A Márcia sugeriu que eu ligasse para a Lucía para ela fosse até em casa para verificar se o trabalho de parto estava progredindo e que retornasse dali 1 hora. Liguei para ela que em 40 minutos estava em casa. Pouco antes o Seiti e Elisa haviam retornado da lagoa e ela almoçou. Nessa hora, as contrações já estavam bem doloridas. Exatamente às 11h30 Márcia ligou e a Lucía atendeu dizendo que as coisas estavam caminhando bem e que era de fato um trabalho de parto, tanto era um trabalho de parto que eu mal abria os olhos mais.

Aqui um parênteses.

A Cecília resolveu nascer num dia em que todo o grupo de parto humanizado de SP estaria reunido na casa do Dr. Jorge Kuhn para um almoço. Quando a Lucía disse a Márcia sobre a situação, ligaram então para a Ana Paula que estava a caminho de SP com os 3 filhos e marido para o tal almoço. A coitada voltou, foi pra casa e foi dar almoço para os filhos (no McDonald´s!).

Fecha parênteses.

Lucía começou a fazer massagem e colocou uma bolsa de água quente nas minhas costas. Aliviava muito as dores. A Elisa acabou o almoço e o Seiti a levou na casa da minha cunhada, temos a última fotografia enquanto éramos 3! Logo em seguida ele voltou e trocou de lugar com a Lucía e as contrações continuaram fortes e ritmadas.

Ana Paula chegou e fez um exame de toque: 2.5cm. Pouquinho né? Mas tantas eram as dores e tão frequentes que nem me preocupei com isso.

Eu me acomodei de uma tal maneira sentada numa bola murcha da Lucía que nenhuma outra posição era confortável. Na verdade, nem essa era confortável mas era a melhor. Lucía sugeriu de eu ficar encostada sobre a bola, e não foi bom. Fomos pro chuveiro e ali fiquei durante uma única contração. Permaneci no meu cantinho, entocada (no sentido de toca) mesmo. O meu cantinho era a quina da minha cama, debruçada sobre vários travesseiros.

E as contrações seguiam, fortes, cada vez mais fortes. Entre uma contração e outra, eu cochilava. Incrível essa capacidade que temos de relaxar num momento tão intenso. E, eu ainda pensava: alguém precisa ligar pra Bia vir ... mas eu não conseguia falar (Bia é a pediatra da Elisa, e agora da Cecília tb, e além disso, minha acupunturista querida que me acompanhou durante a gestação). Por fim, a Bia não veio, infelizmente!

Em determinado momento, comecei a gemer de dor. O engraçado que depois de uma certa hora, pouco antes da contração chegar, eu tinha uma tremedeira...

Os 2 pontinhos que eram massageados já não surtiam efeito e então o Seiti começou a apertar a bacia para ir abrindo, conforme orientação da Lucía que sempre me incentivava dizendo que eu estava ótima, indo muito bem. O coitado do meu marido deve ter ficado muito dolorido porque a cada contração ele apertada e eu empurrava as costas em direção a ele que devia fazer muita contra-força. Esse apoio foi fundamental, tanto o apoio físico como apoio emocional da pessoa que me acompanha há 16 anos na ‘alegria e na tristeza’.

Além das massagens, a Lucía trouxe consigo um negócio para fazer moxa nas costas. Então, era um apertando aqui e outra me esquentando dali (depois, a Ana Paula me contou que ao chegar em casa e sentir o cheiro que estava achou que estávamos fumando maconha!).

Lembro-me de uma hora que a Lucía ligou pra Márcia e colocou o telefone perto de mim para que ela ouvisse os meus gemidos. Eram gemidos de quem já tinha passado de uns 7 cm. Estávamos somente nós em casa ainda e a Lucía pediu para eu me tocasse e entrou pela vagina apenas ½ dedo e já senti a cabecinha da Cecília, ou pelo menos acho que era a cabecinha.

A Lucía, sempre ao nosso lado, me ajudava com as respirações porque às vezes eu não conseguia fazer a respiração correta (aquela que joga o ar para abdomem para pressionar o bb a baixar).

Não sei que horas exata foi, mas por volta das 15h00 a Ana Paula voltou pra casa e fez outro exame: 9 para 9.5cm , colo fino, bolsa intacta e lembro dela dizer: será que vai nascer empelicada? Sempre achei especial ouvir histórias de crianças que nascem empelicadas e sempre nutri essa vontade.

Lá pelas tantas achei senti uma pressão e troquei a bolinha pela cadeira de parto de cócoras. Achei a cadeira meio alta mas não pensei que eu poderia ter nesse momento ficado de cócoras de fato.

Logo em seguida chegaram Márcia e Ana Cris. Depois fiquei sabendo que elas trocaram a direção e a Ana Cris veio voando pra Campinas (segundo a Márcia a Ana Cris amaciou o motor do carro dela). Se não fosse assim, não chegariam pra segurar a Cecília.

Ao chegarem, escutaram o coraçãozinho do bb. Tudo bem.

As contrações seguiam muito fortes e as dores naquele momento me pareciam insuportáveis. Ouvi alguém me dizer: se vc fizer força, nasce.

Na próxima contração comecei a fazer força. Não imaginava que era possível fazer tanta força assim. Gritava muito. Mas um grito que vinha não sei de onde, longo e sem interrupção. E conforme eu fazia força sentia a cabecinha descendo e doía muito, ardia o períneo. O expulsivo foram 5 contrações (vi no vídeo porque não me lembrava) e em alguma delas a bolsa estourou. Eu fazia tanta força que ouvi alguém me dizendo: não faça tanta força para não lacerar o períneo, mas o instinto era muito mais forte que a minha parte racional naquele momento. A cada contração, o bb descia mais um pouquinho até que saiu a cabeça. Nessa hora, a Márcia ajeitou os ombros e numa próxima força saiu o corpo inteiro. A Cecília deu uma miadinha e veio para o meu colo. Lindinha de tudo, cabeludinha, vermelhinha, parecida com a irmã quando nasceu. Não quis mamar naquele momento mas ficou ali no aconchego um bom tempo.

Enquanto isso saía a placenta.

Detalhe: havia mecônio (não sei qual grau, mas certamente não era grau I) e fiquei sabendo só depois que nasceu.

Logo depois a Cecília foi tomar um solzinho com o pai (saíram fotos lindas) e depois ser avaliada pela Ana Paula para depois tomar seu banho. Em nenhum desses momentos ela chorou, estava muito tranquila. Depois, enquanto a pobre mãe estava sendo suturada e tomando Gatorade (foram 7 pontinhos ao todo que, segundo a Márcia 6 deles foram porque ao nascer a mãozinha estava na face e somente 1 foi laceração pela força), veio mamar. Mamou um pouquinho e foi dormir o sono dos justos.

Fui tomar banho e a Ana Paula apareceu com uma deliciosa supresa: chocolate!!!! Ela tinha consigo porque ia levar na casa do Dr. Jorge.

Que delícia todo mundo na minha cama comendo chocolate. E me esbaldei, comi um monte.

Nessa hora o Seiti foi buscar a Elisa que voltou animadíssima me contando que a Cecília tinha chegado!

Pronto, agora minha família estava completa!

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